Nos últimos anos, a cetamina, um medicamento tradicionalmente utilizado como anestésico, tem se destacado como uma abordagem terapêutica promissora para diversas condições psiquiátricas, incluindo a depressão resistente. Recentemente, pesquisas inovadoras têm explorado o potencial da cetamina no tratamento do abuso de substâncias, uma área que frequentemente apresenta desafios significativos, como a dependência química.
Compreendemos profundamente as dificuldades enfrentadas por aqueles que lutam contra o transtorno por uso de substâncias, como a dependência de cocaína e alcoolismo. Os tratamentos convencionais, que incluem terapias comportamentais e suporte psicossocial, nem sempre alcançam os resultados desejados, e a batalha contra a recaída pode ser árdua e constante.
Cetamina no tratamento de dependência química: estudos e eficácia
No cenário desafiador da dependência, a cetamina surge como esperança, atuando em mecanismos cerebrais distintos dos tratamentos tradicionais para a dependência. Pesquisas iniciais indicam que a cetamina pode influenciar significativamente a motivação para a mudança e remodelar a maneira como o cérebro processa as memórias de recompensa ligadas ao uso de substâncias, oferecendo uma nova rota para a recuperação.
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Viçosa investigou o uso da cetamina no tratamento da dependência de cocaína e derivados. Os resultados foram promissores: uma única dose de cetamina induziu uma melhora expressiva e duradoura na motivação dos participantes para abandonar o uso da droga ou manter a abstinência. Essa melhora não apenas persistiu ao longo do tempo, mas também veio acompanhada de uma melhora significativa na saúde mental dos indivíduos.
Em paralelo, estudos sobre o uso da cetamina no tratamento do alcoolismo também têm apresentado resultados promissores. Uma pesquisa publicada na prestigiada revista Nature Communications demonstrou que a cetamina possui o potencial de reduzir o consumo de álcool através da reconfiguração das memórias associadas à bebida. Ao administrar cetamina logo após a reativação de memórias de recompensa disfuncionais relacionadas ao álcool, os pesquisadores observaram uma diminuição tanto dos efeitos reforçadores do álcool quanto dos níveis de consumo a longo prazo.
Ação da cetamina no cérebro: neuroplasticidade e memória
Esses resultados indicam que a cetamina pode modular a neuroplasticidade cerebral, contribuindo para a interrupção de circuitos neuronais disfuncionais formados pelo uso prolongado de substâncias. Adicionalmente, ela facilita a reestruturação de memórias de recompensa, tornando-as mais adaptativas. Ao influenciar esse processo de reestruturação da memória, a cetamina tem o potencial de diminuir a força da ligação entre os gatilhos ambientais e o desejo pela droga, um elemento chave na manutenção do ciclo da dependência.
Estudos, riscos e efeitos colaterais
Embora a pesquisa sobre o uso da cetamina para transtornos por uso de substâncias ainda esteja em fase inicial, os resultados preliminares são altamente promissores. Estudos futuros, com amostras maiores e acompanhamento prolongado, serão importantes para validar esses achados e refinar os protocolos de tratamento. Contudo, as evidências atuais já indicam a cetamina como uma ferramenta terapêutica inovadora, oferecendo uma nova perspectiva de esperança para aqueles que lutam contra a dependência e não obtiveram sucesso com abordagens tradicionais.
Assim como no tratamento da depressão, a administração de cetamina para transtornos por uso de substâncias exige rigorosa supervisão médica, idealmente por um médico anestesista, em um ambiente hospitalar apropriado. Esse ambiente controlado é fundamental para garantir a segurança do paciente e monitorar de perto quaisquer efeitos adversos.
Acreditamos que a cetamina representa uma abordagem revolucionária na busca por tratamentos mais eficazes para a dependência, oferecendo um mecanismo de ação singular que pode complementar terapias existentes e, potencialmente, transformar profundamente a vida de indivíduos em busca de recuperação e libertação do ciclo da dependência.
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Referências:
Das, RK, Gale, G., Walsh, K. et al. A cetamina pode reduzir o consumo prejudicial de álcool por meio da reescrita farmacológica das memórias de consumo de álcool. Nat Commun 10 , 5187 (2019). https://doi.org/10.1038/s41467-019-13162-w
PEREIRA, Ronaldo Cascelli Schelb Scalla. Uso da Cetamina no tratamento de transtornos por uso de cocaína e derivados. 2020. 43 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Medicina e Enfermagem, Viçosa, MG, 2020. Orientador: Camilo Amaro de Carvalho.
O GLOBO. Alcoolismo: novos estudos mostram como controlar o vício. Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: Mar. 2025.